segunda-feira, 26 de abril de 2010

IPM x Xoxota: Um conto

Um dos jogadores fez a revisão psicológica do jogo de domingo na segunda pela manhã:

_ Muita preparação do time?
_ Nem tanto.
_ Muita conversa?
_ Não, um pouco só.
_ Muito treino?
_ Humpf!
_ Muita academia, ginástica ou corrida?
_ Tá zoando... Também não.
_ E mesmo assim o IPM venceu o Xoxota, atual campeão?
_ Claro que não!

O atleta ficou com aquela sensação estranha, um vazio, tudo muito diferente do que sentira domingo, ao acordar cedo, preparar a mochilinha com a camisa prateada, suada da festa de 100 dias na sexta, tomar uma vitamina e seguir de carona para a Tropical Academia.

No domingo ele acreditara que venceria os favoritos e voltaria a ser o astro futebolístico que já fora. Que o sonho não era somente sonho. Que os amigos iam levantá-lo nos ombros, chamá-lo de herói, contar aos pais e namoradas do seu feito histórico. Ledo engano. Haveria de lembrar dos dois gols que sofreu de bola parada e o gol de cabeça, com ligação direta do goleiro adversário. Das duas vaciladas na marcação, que deixaram livres, no mano a mano, os habilidosos DeAzul e Pagliara. Do encerramento melodramático, melancólico, do gol de Chan, ovacionado pela torcida adversária. Tiro de sete metros, todo o IPM condenado a ver a bola entrar mais uma vez, rápida, no ângulo, impiedosa.

Na segunda-feira, ele mal havia dormido, pensando e revendo as jogadas, estudando seus erros e acertos, justificando suas escolhas naqueles milésimos de segundo, escolhas que acabaram ruins no domingo, já que o time perdera por 6 a 2. Foi cedo para o estágio na Cidade Administrativa, onde também nada funcionava, nem o telefone, nem a internet, nem o ar condicionado. Pensou que merecia a condenação, por ter seu time jogado tão mal. Ou não, foi fazer a monografia, estava atrasado, havia muito o orientador nem ouvia falar dele, mas ele com aquela obrigação, martelando. Não rendeu, só pensava no jogo. Entrava nos blogs adversários para ler as resenhas e nem tinha vontade de falar do seu jogo. Da sua atuação no campeonato, da sua presença no Newtão 2009-2. Ele que fora três vezes prata, seria o que no semestre de formatura?

Seria o quê? Havia escutado elogios pelas defesas, mas e seu ataque, como podia estar tão ruim? Tinham tomado apenas 13 gols em quatro partidas. Tinham feito apenas 13 gols em quatro partidas. Resolveu escrever esse conto, externar aquele vazio, procurar nos outros o que não estava encontrando em si mesmo. A culpa seria dele ou seria dos que não tocaram para ele? Teria chutado pouco ou teria chutado demais e precisava confiar mais nos demais membros da matilha? Teria se escondido ou chamado o jogo? Teria jogado bonito ou estava ele mesmo desconstruindo as jogadas? Sabia que os dois gols do IPM tinham contado com um pouco de sorte. O primeiro foi chutado forte e resvalou na defesa, indo para o ângulo. O segundo foi dividido com o goleiro e sobrou para dentro da meta. E os outros gols, outros tantos, que não aconteceram, por quê? Não sabia e isso o atormentava. Foi lanchar, para distrair, nem fome tinha, mas antes, ao lavar o rosto, olhou no espelho e viu que não era um, era dez, era, ele mesmo, todos os Impróprios.

Foi aí que entendeu que seus colegas sofriam como ele, escreviam com ele o mesmo conto. Sentiam o mesmo vazio. Queriam o mesmo retorno. Teve as respostas. Não era ele, não era sem ele. Era o time, a turma, o XVIII CSAP e seus amigos. Não jogaria mais como se fosse dez. Os dez jogariam como se fossem um. Um time. Uma história. Como em um domingo qualquer.

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